Que os exercícios físicos trazem benefícios em todas as fases da vida, incluindo a infância, está mais do que comprovado. Em resumo, nessa fase, as atividades que exigem movimento fortalecem os ossos, os músculos e os órgãos, além de evitar a obesidade.
Outra vantagem está no reforço da imunidade. “Entre os benefícios estão o aumento do apetite, a melhora do sono, das condições respiratórias e do bem estar em geral, o que também ajuda a prevenir doenças”, explica o professor Valdomiro de Oliveira, do Departamento de Educação Física da Universidade Federal do Paraná, doutor em Pedagogia do Esporte. Por último, movimentar o corpo favorece a produção dos hormônios de crescimento.
No entanto, uma série de dúvidas cerca a prática esportiva nos primeiros anos. Muitos pais acreditam que alguns esportes podem afetar o desenvolvimento das crianças: ginástica olímpica é um exemplo clássico. De acordo com Oliveira, a preocupação tem fundamento, uma vez que crianças e adolescentes estão em fase de crescimento e, por isso, são menos resistentes a cargas e mais vulneráveis a lesões físicas. “O fechamento das epífises (extremidades) dos ossos pode ser acelerado com cargas de treinamentos excessivos, sendo que crianças e pré-adolescentes não suportam as adaptações necessárias principalmente para os exercícios de força, saltos e giros”, afirma o professor. Além disso, tal excesso poderia causar alterações hormonais e, de fato, afetar o crescimento. Mas esse efeito colateral está relacionado à intensidade e ao volume dos treinos de qualquer modalidade – não apenas da ginástica olímpica.
Outra crença comum é de que certos esportes, como natação e basquete, tornariam as crianças mais altas quando adultos. O professor Emilson Colantonio, do curso de Educação Física da Unifesp Baixada Santista, porém, esclarece que se trata apenas de um processo de seleção natural. “A altura final que uma pessoa irá alcançar é determinada geneticamente, independentemente da modalidade física que ela praticar. A natação, uma vez que não propicia nenhum tipo de estresse mecânico e não sofre a ação da gravidade, realmente deixa o aparelho motor livre. Mas não chega a alterar o potencial genético”, afirma Colantonio, que é doutor em Biodinâmica do Movimento Humano. No entanto, obviamente, os treinadores dão preferência a perfis mais adequados a suas categorias, segundo Colantonio. “E convenhamos que nas práticas onde é necessário estar próximo ao solo, como a ginástica rítmica, ser pequeno é uma grande vantagem”, conclui.
Diversão com segurança
Como seu filho pode tirar proveito dos esportes desde cedo sem riscos para o desenvolvimento, então? Em primeiro lugar, é necessário evitar sobrecargas inadequadas à faixa etária da criança. As atividades físicas devem ser realizadas desde cedo, até porque as crianças se expressam pelo movimento. A iniciação esportiva, no entanto, tem de começar entre os 5 e 6 anos de idade, e de maneira lúdica. “Até a puberdade, elas devem apenas ‘brincar de’ e não treinar de verdade”, alerta Colantonio, da Unifesp. Isso porque cobranças por resultados podem levar à desistência precoce, considerando que as crianças não estão psicologicamente preparadas para tanto.
E, em vez de se especializar em apenas uma prática desde pequeno, quanto mais esportes o seu filho tiver acesso, melhor. O “rodízio”, de acordo com os especialistas, favorece o que eles chamam de ampliação do acervo motor da criança e o prazer pela prática esportiva. Assim, ao ter a oportunidade de desenvolver todas as suas habilidades, aumentam as chances de a criança se tornar um adulto ativo e saudável.
Neurônios trabalhando
A prática de exercícios físicos também favorece o desenvolvimento cerebral, em todas as idades. Uma pesquisa realizada pelo Departamento de Cinesiologia (ciência dos movimentos do corpo humano) e Saúde Comunitária da Universidade de Illinois (EUA) com 220 crianças de 7 a 12 anos no ano passado, por exemplo, provou que correr, saltar, brincar de pega-pega, jogar bola, entre outras atividades que exigem movimento, melhora o desempenho escolar. Para chegar a tal conclusão, os cientistas dividiram os alunos em dois grupos. Ao longo de nove meses, o primeiro manteve as mesmas atividades após o horário das aulas, enquanto o segundo participou de brincadeiras como futebol e pega-pega. Ao fim do ano letivo, todas foram submetidas novamente a testes físicos e cognitivos. E pasme: os resultados do segundo grupo foram melhores em todos. A explicação, de acordo com os cientistas, estaria relacionada a mudanças na liberação de neurotransmissores, entre outras substâncias, que promovem o aprendizado e a sobrevivência dos neurônios.
Matéria publicada no site Revista Crescer
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