quinta-feira, 9 de abril de 2015

Pilates também é remédio


Quando bem fundamentados, os exercícios de Pilates ensinam a organizar e ativar a musculatura para estabilizar a coluna. É por esse motivo que a dor óssea ou muscular, não é apenas aliviada, mas na maioria das vezes, curada. Uma vez entendida pelo aluno, é possível incorporar a técnica ao cotidiano.

Para dores, analgésicos ou fisioterapia. A recomendação parece lógica para quem sofre com problemas na coluna cervical ou agulhadas diárias e intermitentes na lombar. A matemática da dor, entretanto, nos últimos anos, ganhou um potencial fator de cura.

Incorporado gradualmente ao receituário médico, o Pilates deixa o âmbito restrito ao fitness e passa a ser usado como alternativa no tratamento de problemas ortopédicos, neurológicos e respiratórios. A modalidade existe desde a Primeira Guerra Mundial. Na época, seu significado limitava-se a um dos sobrenomes do alemão Joseph Pilates, precursor da atividade. A proposta trabalha a idéia de consciência corporal.

“Exercícios lentos e bem executados promovem equilíbrio do organismo e ajudam a eliminar a dor.”, explica Silvia Gomes, diretora da Aliança Brasileira de Pilates (ABRAP) e dona de um estúdio de Pilates que leva seu nome, em São Paulo.

Na contramão do analgésico, a técnica, segundo Silvia, tem um efeito duradouro e educativo. “Quando bem fundamentado, os exercícios ensinam a organizar e ativar a musculatura para estabilizar a coluna. É por esse motivo que a dor óssea ou muscular, não é apenas aliviada, mas na maioria das vezes, curada. Uma vez entendida pelo aluno, é possível incorporar a técnica ao cotidiano.”

Os resultados, na visão da especialista, podem ser sentidos logo após as primeiras aulas. “Tenho centenas de alunos com casos de dor. Na grande maioria das vezes, o sintoma forte, agressivo, melhora após a segunda aula.”

Os efeitos poderosos são conseguidos por meio de aparelhos robustos, elásticos e bolas de plástico enormes, utilizadas para realizar exercícios diferenciados que a técnica propõe. No caso da lombalgia crônica, Silvia explica que o treino estimula a mobilidade da caixa torácica, alonga os músculos que estão entre as costelas e desperta o volume tridimensional do corpo. O trabalho combina respiração, movimento, flexibilidade e força. “Ensinamos como respirar adequadamente e qual a movimentação ideal para mobilizar as vértebras e as costelas.”

Embora a modalidade não imponha limites de idade para a prática, a profissional alerta que é preciso conhecer o histórico, os objeitvos e as possíveis doenças ou restrições de cada aluno. Em seu estúdio, ela revela que já tratou pessoas com complicações sérias, provocadas por exercicios executados sem cuidados por outros profissionais.

“Em um exercicio simples de massagear o corpo do aluno com o bolão de plástico o instrutor pode quebrar a coluna cervical de um aluno que tenha osteoporose. Já vi isso acontecer muitas vezes. A técnica é séria, não pode ser realizada por qualquer um, exige capacitação.”

Comprovação científica

Depois de arrebatar marombeiros, sedentários e doloridos, a modalidade começa a ganhar embasamento científico e endossa seu valor terapêutico. A fisioterapeuta da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Camila Pinhata Rocha, analisou os efeitos do pilates no tratamento da lombalgia crônica e fundamentou sua tese de doutorado no assunto.

Para comparar resultados, a pesquisadora tratou um grupo de mulheres com eletroterapia, um aparelho usado pela fisioterapia para trabalhar a dor, e outro conjunto de pacientes recebeu sessões semanais de pilates.

A escrevente judiciária Núbia Maria Medeiros Feltre, de 40 anos, foi uma das 36 mulheres sedentárias, com crises severas de dor na lombar, que não faziam o uso de medicamentos, a participar do estudo desenvolvido por Camila.

Os dados foram satisfatórios em ambos os grupos pesquisados. Camila explica, porém, que os pacientes que utilizaram o aparelho voltaram a ter problemas pouco tempo após o término da pesquisa, efeito que não foi sentido pelo grupo que freqüentou as aulas de pilates. “A eletroterapia não dá condição muscular, consciência corporal que o pilates promove. A dor não é tratada, apenas amenizada.”

Asma e impotência

A gama de atuação da modalidade é ampla e curiosa. A fisioterapeuta da Unicamp revela resultados positivos em pacientes com asma e bronquite. “A atividade trabalha corpo e mente, pede que o aluno conheça o corpo, aprenda a respirar corretamente e promove condicionamento cardiovascular”.

Silvia Gomes comenta que muitos atletas, após sofrerem um processo cirúrgico ou um lesão grave, recorrem ao pilates em busca de reabilitação. O trabalho foca um fortalecimento muscular e permite que o esportista volte a praticar a modalidade em pouco tempo. “Montamos um treino que atenda a necessidade e respeite os limites de cada aluno. A variedade de aparelhos e exercícios é enorme e evolutiva.”

Aprender a relaxar e contrair os músculos de maneira mais eficiente eleva a qualidade de vida pessoal e sexual. Segundo os profissionais, a técnica pode ajudar a combater a impotência sexual, no caso dos homens, e dar firmeza ao períneo feminino. Silvia revela que os exercícios trabalham o assoalho pélvico, estimulam a ativação do transverso do abdome, conhecido como o cinturão de força do corpo. “O aluno aprende a sensibilizar essa região. O movimento é muito pequeno, é preciso aprender a relaxar para conseguir contrair e sentir os benefícios.”

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